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quarta-feira, 24 de setembro de 2014



Eu estava com frio, mas satisfeito e admirado, sentado, encolhido sobre a pedra que o musgo escolheu para crescer, pequeno e delicado, tal qual a lágrima sublime que brotava de suas frestas. O único som ao meu redor era o da água, que abundante e cristalina brotava da terra e retornava ao seu colo. Contemplando esse ciclo como se a eternidade me fora dada, lavei minha alma, e os meus sonhos a partir daí foram puros e tranquilos. Com a nascente inexplorada à flor da terra e assim como veio, retornando para ela, em seus abismos rochosos de verde iluminado pelos escassos raios de sol, a paz reinava como se só ela houvesse naquele lugar, e nada mais que lhe perturbasse em sua melodia suave. Seu silêncio.

Feche seus olhos, pequena criança
E se deixe levar pela brisa gelada
Entregue-se a ela para nunca retornar
Ou abra-os, e veja-se condenada

A saída do casulo pode ser dolorosa
Mas o verme recebe o poder de voar
Ironicamente, de asas cortadas
É como se sente ao se libertar

Correntes do mundo, prisão perpétua
Rosa malévola, fonte de crueldade
Votos de revolução, vida supérflua
Levando o que resta da sanidade

Melodia triste, repetitiva
Análoga aos dias de afazer
Sempre repetindo na canção sinistra
O que faz sentir morto, e obrigado a viver

Mensagens subliminares explícitas aos olhos
Aqueles que enxergam desejarão a cegueira
E a atrocidade que paira diante do nascer do sol
É o futuro que o nosso crepúsculo semeia

Não apenas é silencioso o sussurro
De modo que os vivos bebem de seu veneno
Mas voluntários condenados levantam a mão
Agindo coagidos como por opção
E de novo descartam o discernimento
A voz adentra às nossas entranhas
E nos perdemos em nosso próprio tempo

Acreditando viver, sentindo imortais
Como se tudo fizesse perfeito sentido

Vivendo como se nunca fôssemos morrer
Morrendo como se nunca houvéssemos vivido

(lucas vasconcelos)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Elkain

    Eu nasci em Moria, uma cidade a leste da capital, e lá cresci. Talvez aquela fosse a região mais bela de toda Vandhir: calçadas brancas com muitas árvores e fontes de água cristalina. A presença dos povos élficos nos abençoou com sua música e arquitetura. Vivi toda minha infância correndo e brincando naquelas ruas, vendo o sorriso de minha mãe e sem qualquer tipo de preocupação.

    Nosso soberano era bondoso e clemente. Panros, o justo. O tipo de pessoa que todos queriam que vivesse e governasse para sempre. Mas infelizmente até mesmo o mais amável dos seres está a mercê do tempo. Quando eu ainda era era um jovem rapaz, alguns anos antes de ser nomeado adulto, nosso senhor faleceu...

     Foi uma grande perda para todos. Insubstituível. E aquelas ruas de pedras brancas polidas cobertas com pétalas teriam sido um espetáculo maravilhoso aos olhos, se tudo não se tratasse de seu funeral.
    Foi então que eu descobri que nem tudo era paz. O sucessor do nosso senhor não se deu ao trabalho de prestar o mínimo respeito a nenhum legado do seu falecido pai. Desde que foi coroado, Wandakain governou com punhos de ferro a nossa cidade, prendendo, torturando e matando nossos irmãos. Aumentando os impostos, criando pedágios, e obrigando todos aqueles que eram capazes de erguer uma espada a unir-se às suas expedições. O meu pai foi tirado de nós.

    Diante dessa tirania, rebeldes começaram a se manifestar, mas a repreção acontecia até mesmo dentro dos templos e de nossas casas. Minha mãe dizia que tudo iria melhorar, que nosso pai iria retornar um dia.. Tola esperança. Suportamos o tirano por vários anos, até que a legião rebelde começou a ganhar força, mas a maioria de nós apenas ficava em casa e rezava para que eles tivessem sucesso na guerrilha, já que todo tipo de carregamento era escoltado e não havia como colaborar com a rebelião sem arriscar.

    Foi então que a pegaram. Eivana. A garota mais doce que já conheci. A última pessoa na terra com quem os miseráveis precisariam se preocupar. Os impostos estavam sendo arrancados de nós e ela não tinha dinheiro para bancar os medicamentos de que precisava o seu pai. Precisou comprá-los de mercadores que se infiltravam pelas muralhas. Infelizmente foi vista durante as visitas noturnas e seguida até sua casa. Foram encontrados os remédios, e ela foi acusada de contrabando e sonegação. Eu nem quis imaginar o que fizeram com ela quando a reencontrei. Sim.. eu a reencontrei. Consegui convencer minha mãe a deixar a cidade e nos juntamos a uma caravana formada pelas mesmas pessoas com as quais um dia convivemos tranquilamente. Caminhamos por vários dias enquanto nosso número diminuia. Pessoas se instalavam nas aldeias vizinhas onde seus parentes e amigos habitavam. Eu decidi seguir até a pequena cidade onde os rebeldes se concentravam e procurá-los foi a primeira coisa que fiz ao chegar. Ela tentou me dissuadir. Mas eu TINHA que fazer alguma coisa.

    A guerrilha se instaurou por mais treze anos anos, até que a rebelião ganhou força o suficiente para uma investida final contra o exército de Moria. Tivemos que atacar os muros e derrubar os portões da nossa própria cidade natal, matar os soldados que um dia nos defenderam, aqueles que costumávamos cumprimentar nas praças. Enfim nossas investidas tiveram sucesso, e o maldito Wandakain foi capturado e julgado sob nossas antigas leis. Krux, nosso patrono e líder supremo da rebelião teve o prazer de ser o algoz do tirano. Como eu queria ter colocado minhas mãos naquela garganta.

    Após tudo haver acabado houveram tempos turbulentos enquanto um novo soberano era nomeado, mas nada comparado a quando o nosso último ainda estava no trono. Após a última batalha passamos a ser conhecidos entre os populares como vingadores, justiceiros.. até mesmo heróis. E logo a notícia da rebelião se espalhou, e alguns grupos da nossa tropa visitaram cidades vizinhas, vendendo sua imagem e seu serviço. As demais nações ameaçavam declarar guerra contra Moria, por seus ataques não oficiais chefiados pelos pequenos grupos de antigos rebeldes. Foi então que Krux nos deu sua última ordem. Precisávamos deixar aquela cidade para trás. Nossas casas e famílias, a cidade pela qual havíamos lutado e morrido...

    Muitos se recusaram e se voltaram contra nosso próprio líder, mas então até mesmo eu fui capaz de perceber a sabedoria por trás daquelas palavras. Toda a força e eficácia da nossa organização recaía justamente sobre o nosso anonimato (...) Era preciso cumprir aquela ordem. Assim deixei para traz a minha casa, mãe, irmãos, amigos... e Eivana, já que não apenas o nosso povo precisava da nossa proteção, e nos espalhamos por todos os recantos do continente, de forma que sempre mantínhamos contato com a nossa ordem, oferecendo ajuda a todos aqueles que como nós, eram oprimidos.

    Desde o dia em que deixei minha cidade, dediquei a vida ao manejo das armas, venenos e das artes mortais, levando justiça, vingança e liberdade àqueles que por qualquer motivo não pudessem conquistá-las sozinhos, respondendo a todos os chamados da minha ordem e abatendo qualquer inimigo com um único golpe da minha lâmina.
   
    Meu nome é Elkain, de Moria, e nossa história será contada por gerações.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Leviatã do lago escuro

Eu estava num barco pequeno, remando em um lago escuro cercado de vegetação. Sozinho, a noite, em silêncio, quando percebi que meu barco estava sendo sugado cada vez mais rápido para o centro de um redemoinho. A medida que me aproximava do centro sentia um arrepiar na espinha ao ouvir a voz do que parecia ser algo gigantesco gargalhando estrondosamente abaixo de mim. Angustiado e com medo, eu apenas esperava para ser devorado, já que não havia mais nada que pudesse fazer.

Criados mudos

Eu estava no meu quarto, e ouvia barulhos vindos do corredor. Eu deveria estar sozinho em casa, então saí para verificar o que era. Haviam pessoas estranhas no quarto do meu irmão, elas estavam varrendo o chão com uma expressão vazia, robótica. Me senti assustado com a presença e expressão delas, então as matei com um bastão de madeira. Elas caíram e continuaram fazendo com as mãos o movimento de varrer. E eu achava engraçado. Doentiamente engraçado. E então me jogava da escada enquanto gargalhava. Depois de acordar eu ainda acordei mais uma ou duas vezes.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Eu estava sozinho. Já era tarde e eu estava cansado quando finalmente decidi largar meus afazeres e me preparar para dormir. Fui ao banheiro e, por pura brincadeira, desejei boa noite ao meu próprio reflexo no espelho. O que eu não esperava era que, ao apagar a luz e dar as costas à porta entreaberta, uma voz perturbadora atrás de mim fosse responder.



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Tomado pelo sonho me proponho ao isolamento
E em meu mundo me exponho ao delírio do abandono
E de mim mesmo me torno dono, destinado ao esquecimento

Um ateliê de minhas obras expostas a mim mesmo
Uma fachada que me assombra, e sozinho eu lamento
O desejo de compartilha-las com outrem neste aposento
Rumo minha mente a esmo, e mergulho em pensamentos

Estas obras tem histórias que transbordam emoções
Desejos e esforços, milagres e frustrações
Estudos e pesquisas, que se fazem em um só plano
Interior ao sonhador, artífice, deus e humano

Com sua alma a viajar, entre inventos e histórias
Mergulhando sem temor, entregue à  criatividade
Ao sonho de inspiração, dotado de insanidade
Aquela que o mantém são, e o traz próximo à verdade

Que ele mesmo carrega em seu delírio mais profundo
E jamais pudera ser atingida em qualquer lugar do mundo
Que não em seu universo, do qual o mesmo é criador
Que venham suas obras primas, resplandecendo seu esplendor

E que a cada dia que passe, a cada conquista realizada
Aos itens mundanos que o cercam, a cada obra seja dada
Uma nova vida.

(Lucas Vasconcelos)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Corvo, de Edgar Allan Poe (Recitado por Omnia)



Insônia

Perseguindo o medo para fugir do vazio
No escuro, começo a noite em claro
aguardando angustiado a quebra de um silêncio conturbado
de uma mente doente que ainda não dormiu

Me recolho ao quarto, me deito
E a sombra me cerca novamente no leito
Ao quarto retorno. Um sono desfeito

Me levanto, caminho. No silêncio, grito sozinho
Grilhões do devaneio e da corrupção
O que seria da vida sem a fantasia, a fuga e a utopia
pelas quais abro os olhos todos os dias
Minha insanidade é o que me mantém são

Desperto. Não percebi que havia adormecido
e percebo a sensação imediatamente
Uma ironia. Um bom sono como se fora proibido
Dessa vez fui poupado dos pesadelos frequentes

Que querem de mim, meus demônios?
O que os invocou e por que só hoje se calaram?
Não me atrevo a me perguntar
Mas sinto o alívio, e aproveito
pois sei que sabem onde é meu leito
E que logo voltarão a me atormentar.

(Lucas Vasconcelos)


A partir do fogo, a água, o ar recebe
E procura pela terra, para que o círculo se complete
Nesse círculo existe uma mágika pacífica e pura
Disposta a ser recebida por todo aquele que a procura
Recebe esta energia, e provê ao círculo o quinto elemento
Senta-te imóvel, fica de pé, ou em movimento
Recebe a energia da forma mais conveniente
Mas física, mental e espiritualmente
Pois não há nenhuma verdade, já que ela não faz distinção
E à harmonia da existência, percebe então
Que és um com a água e o ar, que são um com o fogo
E que és um com a deusa, a terra, o todo
A natureza e a vida, a grande mãe da qual tudo veio
E à qual retornará, para que o círculo se complete.

(Lucas Vasconcelos)

Vincent


Meu suspiro enterra meu sentimento
Mudo pela repressão, ninguém ouve o meu grito
Minhas mãos imploram por extravasar a frustração
E meus olhos por uma lágrima, mas não os permito

Abaixo o olhar e penso comigo
viver não parece mais agradável
como era quando eu dormia
Porém acordar um dia,
era inevitável

Minha alma me martiriza
e faz o meu sangue gelar
Viver é uma bênção na qual não posso acreditar

Sozinho sinto dor, angústia e frio
E atormentado pela tristeza, sorrio
Imerso em meu vale de lágrimas que não caíram
No meu inferno de sangue que não foi derramado
Me ergui do meu leito de morte para viver
Estou condenado.

(Lucas Vasconcelos)

Alma que chora

No quarto escuro, uma vela iluminava poucos metros ao seu redor, enquanto sua chama dançava soprada pela brisa fria de uma janela aberta. A luz da lua cheia penetrava precariamente pelas nuvens escuras que a cobriam.

Olhando para fora, podia ver o mundo no qual habitam, dominado pela ganância e pelo egoísmo. Podia ver os altos prédios dos escritórios onde trabalhavam rasgarem o céu acinzentado, que chorava lágrimas delicadas e frias, num último suspiro, implorando pela piedade dos homens, que nunca virá. Meu corpo pertence a este mundo, e minha alma, neste corpo aprisionada.

Desejei e tentei concedê-la o seu desejo de libertar-se. Mas como as lágrimas derramadas pelo céu enegrecido, o sangue também roga mudo e impotente, por um desejo mórbido de uma liberdade utópica, e inalcançável. Sozinho, tudo o que me restara era imitar aquele céu melancólico, e chorar a dor de ser uma alma morta, condenada a estar viva.


Não preciso do luxo que me incentivam a buscar
Nem dos afazeres sem sentido
Não preciso seguir a história que foi escrita para mim
E mesmo me sentindo assim
Só me resta aceitar a existência de tudo isso
Enquanto não entendo a de mim mesmo

Me alegro
Me entristeço
Choro, sangro
E agradeço pelo dom que recebi
Mas não existo como deveria
Ou como desejo
Afinal, parece que não mereço
O mínimo que um dia eu pedi

Se choro, se sangro, e existo como tudo e todos
Por que sou tão incompatível com esse lugar ?
Me pergunto, e várias respostas vem a minha mente
Mas nenhuma que represente algo em que consiga acreditar
Não tenho nenhuma ambição grandiosa
Nem uma meta ou objetivo
Só quero me sentir bem em estar vivo
Ao me entregar à morte

Não preciso do luxo que me incentivam a buscar
Nem dos afazeres sem sentido
Não preciso seguir a história que foi escrita para mim
E mesmo me sentindo assim
Só me resta aceitar a existência de tudo isso
Enquanto não entendo a de mim mesmo.

(Lucas Vasconcelos)

Vermillion Pt II - Slipknot




She seemed dressed in all of me
stretched across my shame
All the torment and the pain
Leaked through and covered me
I'd do anything to have her to myself
Just to have her for myself
Now I don't know what to do,
I don't know what to do
When she makes me sad

She is everything to me
The unrequited dream
A song that no one sings
The unattainable
She's a myth that I have to believe in
All I need to make it real is one more reason
I don't know what to do,
I don't know what to do
when she makes me sad.

But I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me

A catch in my throat
Choke,
Torn into pieces
I won't, no
I don't wanna be this
But I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me (12x)

She isn't real
I can't make her real
She isn't real
I can't make her real
Quando acordei e vi o mundo no qual estava
não vi nada além de miséria
a humanidade havia perdido a razão
e escravidão significava poder

Tentei fugir, mas fui capturado
e penei no meu próprio inferno
me libertei após pagar com minha dor
mas o mundo nunca será o mesmo agora

Por que não posso fugir ?
Seria eu um profeta sem voz ?
não quero viver num inferno ilusório
tomado como um paraíso

Quando acordei e vi o mundo no qual estava
não vi nada além de alienação
vidas eram negociadas
e toda a realidade não passava de um sonho.

(Lucas Vasconcelos)
Qual será o sentimento de um crucificado
enquanto carrega nos ombros seu destino, sua cruz
Como será dar seus últimos passos
até onde seu algoz o conduz

Qual será seu sentimento
ao ver suas mãos serem transpassadas
e olhar o céu pela última vez,
ouvindo ao seu lado, as marteladas

Cada golpe contaria sem pressa
os últimos momentos de sua vida
que levaria dias para acabar por completo
antes de ser esquecida

Qual será o sentimento de ver seu sangue
cair abandonado ao chão
e encarar seus amigos e família
pequenos em meio à multidão

Sentir a dor, o desespero, a aflição, a impotência
e a vida deixando o corpo gélido
pondo um fim à sua última resistência

Qual será o sentimento de um crucificado
cujo único inimigo é o tempo
ao saber que não falta muito até que morra o seu sofrimento.

(Lucas Vasconcelos)
Acordamos cedo pois vamos viver um "novo dia"
Mal abro os olhos, e já sinto voltar a melancolia
Causada pelo tédio que me traz minha rotina
Nossas vidas não tem emoção, perigo ou adrenalina

Sem razão, objetivo, lógica, sentido
Vivo, e sei que meu tédio é meu único amigo
Olho ao redor, e vejo as consequências nas nossas caras
Que só expressam a exaustão de pessoas cansadas

Expresso minha angústia para evitar a loucura
Pois meu tédio quase me levou à minha sepultura
Mas cada litro do sangue derramado pode ser reposto
Diferentemente de uma lágrima que mancha um rosto

Já raras, elas se tornam quase invisíveis
E minhas feições, quase indestrutíveis
Pois nada mais me agrada, nem mesmo meu nome
Enquanto nosso mundo me consome por dentro
Por fora já sou quase um boneco
Sem sentimento
Como nos versos nos quais expresso
O último vestígio de uma alma que um dia habitou em mim
Mas me deixou, visto que a angústia não tem fim

Não senti mais nada desde que minha essência me deixou
E meu martírio foi o único que ainda não me abandonou
Vestido em luto, talvez, meu espírito possa falar:
Eu sou o fruto do mundo no qual não posso acreditar.

(Lucas Vasconcelos)